Agora estava a tentar escrever algo sobre a humanidade, sobre a inspiração que a humanidade necessita para que se possa realizar, mas resolvi apagar a breve linha que tinha escrito. Quando um texto não começa a sair escorreito na primeira sucessão de ideias é preferível parar e voltar ao início, ou parar, mesmo, simplesmente.
Certas vezes, nasce uma vontade súbita de expor em letras alguma ideia que nos preenche. No meu caso não sinto tanto o nascimento de um pensamento, mas, antes, encontro-me irrequieto por dentro, como se o meu corpo não conseguisse digerir uma refeição mais pesada, que durante horas, dias e semanas, circula no organismo. Nem sempre sei muito bem o que dizer, como agora, só me apetece escrever sem parar, letra após letra, após palavra, após frase. Enquanto o faço, vou alimentando o meu espírito de música, os meus olhos tornam-se pesados e o raciocínio lento. A passagem ao estado catatónico desperta-me, porém, a mente que desabrocha visualmente como uma flor de inverno. Passam em corrida a vastidão de imagens sobre os meus olhos semicerrados. Imagens de espaços e formas que reconheço, de pessoas que me acompanham e que não lembro de alguma vez ter conhecido. Sensações de estar ainda presente em locais onde já não me encontro, em que sinto os cheiros e, mais que isso, relembro as associações mentais de todo um ambiente físico e psicológico, preso ao momento em que o vivi.
Conhecem esta sensação que vos descrevo? É semelhante àquela de escutar uma música marcante. Uma música que nos transporta a um tempo que não é. Uma música que por si não significa muito, mas que está ligada a um momento psicológico que engloba um tempo, um espaço, uma causa-efeito, uma temperatura, uma reacção emocional. E em fracções de tempo revivemo-nos como a impressão que somos em nós mesmos.
É isso, creio. Somos num instante a impressão do que fomos, como se uma parte extradimensional de cada um se desdobrasse num infinito de si próprio perpetuáveis no tempo.
A quântica aceita, em parte, esta formulação da existência de uma pluralidade da universalidade, que se divide a cada passagem de tempo numa realidade efectiva.
Enquanto escrevia isto, iniciei uma conversa com um amigo meu que me dizia estar deprimido. Eu compreendo bem esse estado, e notei que a melhor forma de recuperarmos alguém dessa situação é mostrarmo-nos também assim. Foi algo que eu não soube fazer, em tempos, juntar-me onde quer que outro esteja, porque só assim acabamos com a diferença que nos faz sentir mal. Conseguir juntarmo-nos a alguém no sítio onde se encontra é fazermos com que deixe de estar só e a única forma de lhe demonstrar que não tem que continuar a esperar. Tentei explicar-lhe esta teoria, sob a minha própria perspectiva, e ele acabou por sentir-se melhor, achando que eu me encontro num estado mais preocupante que o seu.
Explico-lhe que nos somos unos, mas em cada fracção temporal divimo-nos no infinito das possibilidades existentes, gerando um novo universo real para cada um, o qual se torna também uno, e assim por diante. Ele questiona-me sobre as minhas bases para esboçar esta tentativa e quando pergunto se compreendeu alguma coisa, responde-me “mais ou menos”. O mais ou menos aparece-me como a medida do nada.
A realidade que vivemos é, não só aquela que resulta dos factos que ocorreram, mas também dos factos que não ocorreram, ou seja a inexistência desses factos cria-lhes uma universalidade própria que só pode derivar da existência do eu que não existe conjuntamente comigo, mas que existe em paralelo a mim e que, partilhando de parte daquilo que vivi e não vivi, tem a sua génese no afunilamento retroactivo da árvore genealógica da unidade absoluta. O que quero dizer? Talvez seja mais simples, quando o desmonte ao contrário.
Imagina uma árvore genealógica em que, a cada nascimento, surge um novo ramo que resulta de tudo aquilo que concorreu para lá se encontrar, e de tudo o que não concorreu, porque se tivesse concorrido não seria aquele ramo que ali se encontraria, mas outro com características diferentes, ou até com as mesmas, mas necessariamente outro.
Agora pensa que em cada unidade fraccional de tempo surge um novo rebento algures na arvore, pelo simples facto que pode surgir, por tudo o que concorreu para que pudesse surgir e para que não pudesse. Imagina que tu és 300º rebento. Imagina que além de teres surgido tu, surgiram simultaneamente uma infinidade de outros rebentos número 300, pelo simples facto de também poderem surgir, assim como contigo aconteceu. E agora imagina que num novo salto do tempo tu das origem a uma outra infinidade de rebentos 301º. Todos resultam de um mesmo tronco comum, e todos são expressão de uma existência em função da simples possibilidade de existir, e não da probabilidade da existência potencial. No mundo científico há uma corrente mais “liberal”, que costuma dizer que «se é possível, alguém o há-de vir a fazer, se não o tiver já feito.».
Onde quero chegar? Ao ponto de onde parti. A realidade que vivemos é não só aquela que resulta dos factos que ocorreram, mas também a que resulta dos factos que não ocorreram, ou seja a inexistência desses factos cria-lhes uma universalidade própria que só pode derivar da existência do eu que não existe conjuntamente comigo, mas que existe paralelamente comigo.
Nos somos unos, mas em cada fracção temporal divimo-nos no infinito das possibilidades existentes, gerando um novo universo real para cada um, o qual se torna também uno.
Certas vezes, nasce uma vontade súbita de expor em letras alguma ideia que nos preenche. No meu caso não sinto tanto o nascimento de um pensamento, mas, antes, encontro-me irrequieto por dentro, como se o meu corpo não conseguisse digerir uma refeição mais pesada, que durante horas, dias e semanas, circula no organismo. Nem sempre sei muito bem o que dizer, como agora, só me apetece escrever sem parar, letra após letra, após palavra, após frase. Enquanto o faço, vou alimentando o meu espírito de música, os meus olhos tornam-se pesados e o raciocínio lento. A passagem ao estado catatónico desperta-me, porém, a mente que desabrocha visualmente como uma flor de inverno. Passam em corrida a vastidão de imagens sobre os meus olhos semicerrados. Imagens de espaços e formas que reconheço, de pessoas que me acompanham e que não lembro de alguma vez ter conhecido. Sensações de estar ainda presente em locais onde já não me encontro, em que sinto os cheiros e, mais que isso, relembro as associações mentais de todo um ambiente físico e psicológico, preso ao momento em que o vivi.
Conhecem esta sensação que vos descrevo? É semelhante àquela de escutar uma música marcante. Uma música que nos transporta a um tempo que não é. Uma música que por si não significa muito, mas que está ligada a um momento psicológico que engloba um tempo, um espaço, uma causa-efeito, uma temperatura, uma reacção emocional. E em fracções de tempo revivemo-nos como a impressão que somos em nós mesmos.
É isso, creio. Somos num instante a impressão do que fomos, como se uma parte extradimensional de cada um se desdobrasse num infinito de si próprio perpetuáveis no tempo.
A quântica aceita, em parte, esta formulação da existência de uma pluralidade da universalidade, que se divide a cada passagem de tempo numa realidade efectiva.
Enquanto escrevia isto, iniciei uma conversa com um amigo meu que me dizia estar deprimido. Eu compreendo bem esse estado, e notei que a melhor forma de recuperarmos alguém dessa situação é mostrarmo-nos também assim. Foi algo que eu não soube fazer, em tempos, juntar-me onde quer que outro esteja, porque só assim acabamos com a diferença que nos faz sentir mal. Conseguir juntarmo-nos a alguém no sítio onde se encontra é fazermos com que deixe de estar só e a única forma de lhe demonstrar que não tem que continuar a esperar. Tentei explicar-lhe esta teoria, sob a minha própria perspectiva, e ele acabou por sentir-se melhor, achando que eu me encontro num estado mais preocupante que o seu.
Explico-lhe que nos somos unos, mas em cada fracção temporal divimo-nos no infinito das possibilidades existentes, gerando um novo universo real para cada um, o qual se torna também uno, e assim por diante. Ele questiona-me sobre as minhas bases para esboçar esta tentativa e quando pergunto se compreendeu alguma coisa, responde-me “mais ou menos”. O mais ou menos aparece-me como a medida do nada.
A realidade que vivemos é, não só aquela que resulta dos factos que ocorreram, mas também dos factos que não ocorreram, ou seja a inexistência desses factos cria-lhes uma universalidade própria que só pode derivar da existência do eu que não existe conjuntamente comigo, mas que existe em paralelo a mim e que, partilhando de parte daquilo que vivi e não vivi, tem a sua génese no afunilamento retroactivo da árvore genealógica da unidade absoluta. O que quero dizer? Talvez seja mais simples, quando o desmonte ao contrário.
Imagina uma árvore genealógica em que, a cada nascimento, surge um novo ramo que resulta de tudo aquilo que concorreu para lá se encontrar, e de tudo o que não concorreu, porque se tivesse concorrido não seria aquele ramo que ali se encontraria, mas outro com características diferentes, ou até com as mesmas, mas necessariamente outro.
Agora pensa que em cada unidade fraccional de tempo surge um novo rebento algures na arvore, pelo simples facto que pode surgir, por tudo o que concorreu para que pudesse surgir e para que não pudesse. Imagina que tu és 300º rebento. Imagina que além de teres surgido tu, surgiram simultaneamente uma infinidade de outros rebentos número 300, pelo simples facto de também poderem surgir, assim como contigo aconteceu. E agora imagina que num novo salto do tempo tu das origem a uma outra infinidade de rebentos 301º. Todos resultam de um mesmo tronco comum, e todos são expressão de uma existência em função da simples possibilidade de existir, e não da probabilidade da existência potencial. No mundo científico há uma corrente mais “liberal”, que costuma dizer que «se é possível, alguém o há-de vir a fazer, se não o tiver já feito.».
Onde quero chegar? Ao ponto de onde parti. A realidade que vivemos é não só aquela que resulta dos factos que ocorreram, mas também a que resulta dos factos que não ocorreram, ou seja a inexistência desses factos cria-lhes uma universalidade própria que só pode derivar da existência do eu que não existe conjuntamente comigo, mas que existe paralelamente comigo.
Nos somos unos, mas em cada fracção temporal divimo-nos no infinito das possibilidades existentes, gerando um novo universo real para cada um, o qual se torna também uno.
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