Ultimamente, so me apetece escrever... escrever... escrever... e esquecer-me sobre o que escrevo. Nunca fui adepto de manter diários em papel. São muito pouco práticos e há sempre o risco, e a consumação do risco, de que alguém os venha a ler, sem que o queiramos. Há sempre alguém que acabará por ler aquilo que la escrevermos. Não há segredos eternos e, um dia, alguém acabará sempre por descobri-los. Ou são revelados, ou o seu conteúdo já é conhecido, mesmo que se finja que não se sabe, mesmo que se finja que não se sabe que se sabe. Após certa revelação, já ela feita com pouco ar de revelação, porque eu já sabia o que ainda não me tinha sido contado e porque a outra pessoa já sabia que eu sabia, essa pessoa perguntou-me, ou antes, afirmou: "- Já sabias, não é?". Respondi: "Sim, claro. Como é que era possível não saber?". "- Eu sei que sabias, foi por isso que resolvi acabar com isto e contar de uma vez.", disse. "Pois, eu também sabia que sabias, mas não tinhas que contar. Eu nunca to ia perguntar, nem pedir que o fizesses, porque não tinhas que mo dizer.", respondi. "- Eu não sabia como ias reajir. Mas tirei um peso imenso das minhas costas.". Limitei-me a encolher os ombros. Eu não tinha o direito de reajir, porque não tive, também, a necessidade de perguntar ou conseguir, pela pressão, que me contasse aquilo que eu estava careca de saber. Acabei por compreender que esta foi das decisões mais acertadas que tomei na minha vida, até hoje. Não lhe amputei, aliás, nenhum dos que são seus verdadeiros amigos o fez, o tempo que, pela sua omissão, nos pedia que lhe dessemos. E no momento em que falou, ainda que com receio, fê-lo para quem, na sua ideia, mereceu ouvi-lo, e garantiu, assim, que não falava para paredes surdas. Fê-lo para quem lhe dá o valor que sabe que merece. E conseguiu-o, revitalizou as suas amizades e encurtou uma distância que se tornava assombrosa entre nós, porque rodeou-se das pessoas de quem gostava e que gostavam de si. Essa deve ser a parte mais difícil de todo o trabalho, encontrar a verdadeira reciprocidade de aceitar e ser aceite, tal como cada um é, ou tenta ser.
quarta-feira, novembro 09, 2005
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