domingo, março 09, 2014

Há alguns males que nunca podem ser corrigidos. Algumas coisas do passado que não podem ser tornadas boas de novo. O número de vezes que se diz "Desculpa" ou "Por favor, perdoa-me" não faz qualquer diferença. Até parece que torna tudo pior.

Quando palavras zangadas foram ditas, quando a confiança foi quebrada, pode não haver uma maneira de tornar tudo melhor. Algumas pessoas apenas não querem saber mais de ti. Algumas pessoas apagam-te das suas vidas e de bom grado não olham para trás. Algumas simplesmente escolhem não perdoar, não deixar a pessoa "safar-se" com tanta facilidade. E algumas apenas não têm capacidade de deixar a dor desvanecer.

Qualquer que seja a razão, não importa. As pessoas têm direito em agarrar-se à mágoa pelo tempo que desejarem. A maior parte de nós fez algumas coisas terríveis e o perdão não é uma opção para aqueles que magoámos.

Quanto a nós, enquanto "malfeitores", não nos é concedida restituição pelos nossos erros, temos de o aceitar. Se fomos honestos quanto ao papel que desempenhámos nas faltas que cometemos, pedindo com humildade que nos desculpem e oferecemo-nos para fazer tudo o que pudermos para tornar as coisas melhores, fizemos tudo o que nos é possível fazer. Se a pessoa que amamos não pode ou não aceita o nosso pedido, não podemos ir mais além. Somos meras pessoas, não super-heróis.

A dor de não ser perdoado fere profundamente, por vezes muito mais profundamente que a razão original pela qual procuramos perdão. E talvez seja esse o motivo pelo qual aqueles que amamos não nos perdoam. Talvez queiram que soframos durante tanto tempo quanto possível. Querem escavar na ferida para o resto das nossas vidas como retaliação pela confusão em que os metemos. Talvez o amor e a confiança se tenham perdido para sempre e a relação esteja danificada além de qualquer reparação. Esta dor contínua pelos males infligidos no passado magoa tal como é desejado que magoe. É a nossa vez de vermos como é.

No processo de recuperação, crescem-nos corações; sentimos tudo. Deixamos de fugir da dor ou de proteger o nosso espírito das consequências. Mas também nos cresce uma coluna dorsal. Não podemos continuar a rastejar diante de alguém, mesmo diante daqueles de quem tanto gostamos e com quem tão desesperadamente queremos reparar ofensas, mas que não no-lo permitem.

Quando os destroços do nosso passado nos olham nos olhos e nenhuma restituição é concedida, então acabou. Não há absolutamente nada que possamos fazer. Voltar atrás e rescrever o passado é impossível.

A responsabilidade, agora, é para connosco próprios e para com quem nos acompanha. Pomos um pé à frente do outro, mantemos a cabeça erguida sabendo que nunca mais faríamos novamente algo parecido e tentamos ser para nós mesmos e para os outros a melhor pessoa que conseguirmos, um dia de cada vez.

Ausência de perdão não significa derrota. Não é uma desculpa para mergulharmos em mais autocomiseração. É uma oportunidade para reconhecermos que fomos pessoas nocivas e ganharmos controlo sobre esse lado de nós mesmos. No final, tudo o que podemos fazer é continuar em frente, aprender com a experiência e deixar partir.

Há rui

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