terça-feira, março 19, 2013

Gostava de ouvir-te, amigo, falar sobre a amizade, sobre o amor que une, o respeito, a admiração e o sentido metafísico que te leva a gostar de alguém.

Há um acordo de mentes, uma sintonia de vontades, uma inexperiência do outro que assusta, fustiga e vicia.

Não quero perder-te. Quero contar contigo e, acima de tudo, que me deixes tomar conta de ti como a um irmão. Conta comigo. Inspira-me com o que és, o teu testemunho tão diferente e original.

Guia-me na descoberta de ti. Abandona-te à confiança e não te deixarei nunca cair sozinho. Fala comigo como a um amigo sincero, porque há um sentido para tudo e se hoje aqui estamos é para tocarmos as vidas mútuas.

São camadas enevoadas que procuro afastar, cortinas de teias que descerro para olhar, nem que apenas por um segundo, a tua luz, a tua chama.

Sinto uma promessa de gratidão que incita o atrevimento. Desculpa a ousadia. Mas tenho de entrar e trazer-te comigo.

Há uma estima, uma vocação, um chamamento, uma alegria interior tão repentina e intensa. Tem de ser uma paixão. Não pela carne, mas pela mente, pelo espírito.

«É este o equívoco das paixões que oscilam entre o sublime e o grotesco».

E o que recebo afinal? Algo de ti, imperceptível?

O abismo desemboca aos meus pés como um teste à gravidade e ao equilíbrio. Paixão e obsessão. Cara e coroa da mesma moeda.

E humilhação? Apago-me perante ti, como que desprovido de virtude, orgulho ou estima própria?

Não é esse o propósito. Nem tão pouco justificável para que haja aceitação.

É antes um braço que estendo em primeiro lugar, para que a tua mão o possa agarrar - assim o queira.

Porque, como em Sartre, a minha aspiração é simples, o meu sonho também: o de um «tratado das paixões que se inspirasse nesta verdade tão simples e tão profundamente desconhecida [...]: se amamos, é porque é agradável».

Se te amo, é porque és agradável. Nada mais. Pois este é o maior elogio que podes receber. O maior que te posso dar. Para mim, tu és agradável.

Procuro descobrir o valor da paixão e, no entanto, sou insensivelmente levado a julgá-la. Julgar a paixão é julgar-te a ti. E julgar-te é colocar-me acima e não a par.

Quero ser par, não supra.

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