sexta-feira, julho 02, 2010

Vertigens

Por vezes encontramos encruzilhadas, linhas traçadas, entrelaçadas como meadas de lã tricotadas em formatos sempre originais e inovadores, que nos impedem de utilizar comportamentos padronizados, aprendidos e inculcados ao longo da nossa vida e por via das experiências reunidas.

Fosse a experiência verdadeiramente nossa e não uma mera ilusão passageira e fugaz, talvez se compreendesse o medo de perder aquilo que ridiculamente acreditamos possuir ou ter direito.

Somos navegadores em campo de mártires, procurando em redor por auxílio, apenas para olhar as costas dos desertores e as faces dos abatidos pregadas ao chão.

É neste momento que caímos, por dentro e por fora, de joelhos à terra e mãos ao rosto, mais que chorando, inquirindo e desafiando a força utópica dos destinos, entrecruzados como nós próprios nas teias que tecemos e nas quais nos deixamos adormecidademente enleados, suspensos à sombra do abismo que nos propomos escalar sem nunca o fazer. Não por medo. Apenas vertigens.


"Tinha uma vontade brutal de fazer qualquer coisa que a impedisse de voltar atrás. Tinha vontade de anular brutalmente os últimos sete anos da sua vida. Eram vertigens. Um inebriante, um incontrolável desejo de cair.

Poderia talvez dizer que ter vertigens é embriagarmo-nos com a nossa própria fraqueza. Temos consciência da nossa fraqueza, mas em vez de resistir-lhe, queremos ficar ainda mais fracos, cair por terra em plena rua à frente de toda a gente, ficar por terra, ainda mais abaixo do que a terra."

A Insustentável Leveza do Ser
Milan Kundera

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