Não me dás a razão da minha espera, mas ainda assim continuo a esperar, por algum sinal encantado que desça à terra, vindo do céu, que me faça de novo acordar.
Perdi nos entretantos das vontades de fazer para não estar sem fazer, de criar para não sentir a inutilidade do que sou. Perdido o propósito de se sentir, enegrecidos os votos de esperança que repetimos a cada manhã na adolescência, vencidos e arrasados nas lembranças que nem se chegaram a construir. Restam as ilusões do que apenas existe na nossa cabeça, imagens projectadas pela mente à mente. Sorrisos imaginários em situações hipotéticas, derrotadas pelos dias que correram e correm, do passado para o futuro e não ao contrário.
Gostava de viver nesse mundo onde a espectativa morasse em tudo o que já aconteceu, onde cada extremidade do nosso corpo vibrasse à ideia do que já viveu e onde cada pessoa importa no que foi e não na expetactiva do que se pudesse vir tornar. Seria um mundo mais feliz, esse, que habito em sonhos de regresso. Lá costumava ter um lar que me alimentava com a sua a minha alma, o meu corpo, o meu espírito. Lá via-me todo, na plenitude de uma vida, que não devia surgir tão depressa, com tanta facilidade, com tanta robustez e intensidade. Prontos para rasar o mundo com a força de quem não se pode derrubar. Arrogância esta, da patética presunção de eternidade, da violência das paixões que consomem e alimentam um corpo inerte, desprovido de utilidade.
Gostava de encontrar de novo um pouco do que fui, por ti e por mim, pelos tempos que passei a aprender, a receber de ti tudo o que tinhas para dar. Tirei por ventura mais que aquilo que voltei a pôr. Mas dizias que não e entre nós os silêncios umas vezes eram ouro, outras eram incómodo absoluto por tanto que queria ali explodir e sempre acabei por conter. Sentir em palavras meias, viver por palavras meias, por sentimentos inacabados, por pedaços incompletos. Histórias e pensamentos começados, afinal confessados em tudo o que viamos nesses olhos que se olhavam e tentavam descobrir.
Onde fica afinal a casa para onde devia seguir?
Sem comentários:
Enviar um comentário