segunda-feira, dezembro 12, 2005

Avocações

Enquanto saltitava pela internet, de site para site, encontrei por acaso uma fotografia que me era familiar. Uma fotografia que tirei há algum tempo atrás, na qual não apareço. E lembrei-me de algo que costumava saber, mas que o passar dos dias substituiu a esse conhecimento.

Há pessoas que devem ficar à frente das câmaras. É esse o seu principal papel, é essa a sua matéria-prima, a essência daquilo que são. Seguir à frente, desbravar os trilhos, mostrar o caminho a seguir. A elas desce a clarividência do rumo a tomar, ou delas se espalha aos olhos dos outros, mesmo que se sintam internamente inseguras, ou mesmo, perdidas.

Há outras pessoas que devem ficar do lado de trás das câmaras. Não porque sejam inferiores, ou porque tenham medo de dar a cara por alguma coisa. Mas porque aquele é, na verdade, o seu papel naquele pedaço de história. Aquele é o seu melhor contributo. E quem estiver por fora nunca suspeitará sequer da existência dessa pessoa escondida, que mora na face oculta da lua. E a única prova de que lá se encontra é o seu reflexo, absorvido, multiplicado e transfigurado na imagem captada. E isto aparece como o melhor gesto de agradecimento que podia ser dado a quem está desse outro lado do espelho.

Porque, no final, também sou eu quem lá se encontra, na frente da objectiva, ainda que não apareça, ainda que mais ninguém o saiba. Porque, afinal, há pequenos detalhes que apenas eu posso notar, pequenas histórias que são ali contadas, pequenas razões e consequências. Porque mais ninguém pode saber o momento, evocar as sensações, ou conhecer o lugar. Mas eu sei. Mas eu posso evocá-lo. E isso há-de sempre permanecer, indelevelmente, naquela imagem.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois é. Há dias, no meu blog, alguém comentava que não havia pessoas nas minhas fotografias. E eu reagi. Claro que há pessoas, sempre. Eu estou em todas. Lá atrás, e tanto. E depois há as outras, que não estão lá à frente da objectiva, mas estão ao lado. As que não estão nem atrás nem à frente das câmaras estão ao lado. E esse é o seu papel. A sua essência. É a sua presença que transforma tantas vezes o momento na imagem. São elas, no fundo, que desbravam o caminho. Ainda que ninguém o saiba.
Obrigada pelo post.

 
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